06 maio 2010



1- ionline 05.05.10

Portugal entre os melhores países para as mulheres terem filhos



Portugal em 19.º lugar no ranking da organização Save the Children. Mães norueguesas são as mais felizes e as afegãs estão em último

Pode ser que sim. Pode ser que esta nossa natureza insatisfeita nos faça achar, sem razões lógicas, que lá fora é que é sempre melhor, que o sol brilha mais em Barcelona, que o Inverno se passa melhor em Amesterdão, que o ar é menos poluído em Lubliana e que portanto a nossa vida seria melhor fora daqui. É uma ideia que se adensa, entre nós, 30 e tais, conhecedores de algum mundo e receptivos a novas formas de viver.

Vamos perdendo as amarras com que fomos criados, pais acabadinhos de sair de uma revolução pacífica, o mundo através de umas lentes cor de rosa, os sonhos ainda a não cobrir totalmente os medos dos anos tristes e dos incertos que se lhes seguiram e de onde nós aparecemos! 
Somos o resultado da misturada que lhes ia nas cabecinhas: os valores do passado, as ilusões de um mundo novo, uma fórmula de viver que lhes foi incutida e todo um novo mundo a abrir-se à sua frente!
Não temos a liberdade de espíritos dos nossos irmãos mais novos - aparecidos num ambiente muito menos emotivo e muito mais relaxado - vivemos no dilema que vem do misto de ideais com que fomos educados e aqueles que  vamos adquirindo no nosso percurso, afinal tão diferente do dos nossos pais!


Por tudo isto pode ser que o que sentimos como injusto, inferior, pior, seja afinal uma ilusão: afinal um estudo tem o seu valor, caramba! números são números, rankingns são rankingns sem lugar para sentimentalismos ou análises subjectivas do estado de espírito de uma geração inteira!


A verdade é que bem dissecado, o estudo não se revela assim tão abonatório para Portugal quando as coisas se põe em perspectiva - com quem nos comparamos, estamos à frente e atrás de que padrões? É inevitável que nos comparemos com a nossa realidade mais próxima e aí parece que a chave encaixa na fechadura , sentimo-nos muitas vezes sós nesse percurso - não pondo em causa os cuidados médicos, o acesso a um plano de acompanhamento da gravidez bem estruturado e praticamente de igual acesso para todos - mais fila de espera menos fila de espera, mais anestesista menos anestesista - o acesso à informação que popula pela internet, fnac e indústria ligada ao "meio", ecos, análises e cesarianas, seja por amor ou por interesse temos um país que nos enche de orgulho!

Pior é perceber que caminho interior percorremos enquanto mães e que caminho temos para os primeiros passos desta nova geração - esse caminho é tortuoso, não é de tranquilidade e calma, não é de entrega, é de permanente ausência.

Passamos muitas horas fora de casa, não temos políticas de flexibilidade laboral, muitas vezes não temos condições de trabalho que promovam o nosso bem estar e consequentemente o dos nossos filhos, temos trânsito caótico e enervante, vivemos perto de autoestradas e longe de tudo que nos possa dar um suporte acolhedor, não temos parques verdes para apanhar ar puro meia hora por dia, nem horários compatíveis com uma educação presente. Temos muito poucas estruturas grátis à nossa volta que funcionem como rede de apoio ao desenvolvimento das nossas crianças (transportes públicos, creches, actividades lúdicas, artísticas ou desportivas).

Afinal talvez o problema da maternidade seja um problema muito maior deste país... talvez ao  posicionarmos-nos nesta perspectiva da situação ( "oh captain, my captain!") nos permita um olhar interessante para o país: o que é Portugal para os seus pequenos cidadãos? o que lhes oferece? e o que lhes deveria oferecer, para que os filhos destes pequeninos portugueses vivam daqui a muitos anos num país melhor? que fique para aí em 5º no ranking...

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