27 dezembro 2010

CARTA À MÃE NATAL



Anteontem foi Natal. Um Natal diferente - mas não o serão todos?
Umas vezes acontecem umas coisas, outras vezes aparecem outras. Umas vezes estávamos todos, outras faltava alguém. Umas vezes ficávamos outras íamos. Umas vezes só havia pensamentos para os presentes e as rabanadas outras não. já passamos 32 natais juntas por isso é normal que por eles já tenham passado muitas coisas - boas e más.

Anteontem foi natal. E, como sempre, o natal  é teu.
Como li, num destes pequenos mundos que se descobrem neste universo da blogosfera ( e que às vezes nos fazem sentir em casa!) nunca o natal, ao teu lado, foi um acaso ou um frete: sempre um motivo. sempre celebração.  apesar dos pesares, sempre magia - a tua magia.
Aquela que tu espalhas à custa de algum sacrifício, alguma dor e muitas horas roubadas ao sono e à preguiça. aquela que nunca saberemos agradecer o suficiente. porque sempre a demos como adquirida. porque não sabemos existir ao teu lado de outra maneira.
Talvez ta retribua ao fazê- la, também, ao meu pequeno - sem pedir nada em troca, sem perder o sorriso e o brilho no olhar apesar dos músculos doridos e do coração cansado.

És sempre tu que nos fazes sentir em casa - e que fazes com que a Casa seja a nossa - re-inventado entradas e centros de mesa. acendendo velas e luzes veladas. aquecendo o ar frio com lume e com açúcar. revelando sorrisos com combinações de chocolates e poemas. sempre presentes perfeitos, embrulhados em palavras de ternura - nada é cru, falso ou desleixado. nada ao acaso -  sempre um adereço a espreitar numa  cómoda, num pratinho com bombons, num presépio inesperado. um conjunto de anjinhos a dar as boas vindas. sempre a delicadeza, sempre o pormenor, a receber-nos com toda dedicação, não deixando que NADA falte - afinal, como vives a vida.

Para mais nada que sirva haver internet e blogs e email e papeis e lápis e escrita servirá sempre para isto: conseguirmos aproximar-nos o mais possível do que queremos dizer. destrancar as palavras difíceis ( as mais doces são sempre  mais difíceis!) da gaveta enferrujada da alma, da vergonha de parecer lamechas, da falta de tempo, da falta de jeito, da garganta apertada ao começar a falar, da falta de momento certo e dizê-las. obrigada. sobretudo porque, ao contrário do que se possa dizer, as mães não são todas iguais - OBRIGADA por isso, por pertenceres às do grupo do amor-maior.

12 dezembro 2010

a vida

A vida é em socalcos. Cabe-nos saber desce-los e subi-los com sabedoria. Com cuidado. Cabe-nos saber estar em cima e em baixo sem medos. Sem perder o norte.

A vida é feita de desencontros. de perdas. de opções sobre o  que deixar  para trás. é feita de coisas que ficam por dizer, por fazer.

A vida é feita de bofetadas. de saltos que a meio se revelam sem para- quedas. a vida é feita de inversões de marcha.
A vida é feita de perdas. de saudades e arrependimentos.
A vida muitas vezes não faz sentido. não tem fio condutor. tem buracos negros.
A raiva, a angústia, o desespero, a inveja, a decepção. o muro ao fundo a mostrar-nos que o caminho foi o errado. o abismo a precipitar-se no nosso coração antes de percebermos onde devíamos ter parado.
a culpa, a dúvida, o vazio.

Apesar disto: O amor.
A paz de espírito. as certezas inabaláveis. a força. a aceitação e a tranquilidade. saber que estamos no caminho certo porque o vamos trilhando com o espírito livre.
dar sem esperar receber. ser maior que os medos - ter um sorriso a iluminar-nos o rosto mesmo nas noites sem estrelas. a vontade. o desejo sempre na alma.
Saber que aqueles de quem gostamos numa medida sem medida gostam  de nós ainda mais um bocadinho e estarão sempre connosco e nós com eles e  nada irá algum dia abalar esse amor e isso chegar para nos confortar em qualquer dia da nossa vida.

Só quem tem as almas maiores entende estas duas partes da vida. Só quem sabe sofrer sem se perder de si próprio chega mais longe no seu coração :Ser uma pessoa de bem. ser uma pessoa boa.

O conforto de as ter tido ao nosso lado, não importa onde, em que circunstância, por quanto tempo.  parar de questionar. saber que ali há um porto de abrigo eterno que nos protege de tudo.

Um olhar de profunda ternura, um sentimento que não precisa de nome, que não precisa de mais nada a suportá-lo senão o facto de algum dia, neste turbilhão infinito da Vida, nos termo encontrado, termos existido na vida uns dos outros, tornando- a infinitamente melhor.

01 dezembro 2010

Matilde


No dia em que eu nasci era domingo. A minha mãe já tinha nascido à precisamente trinta e dois anos. E o meu pai também.
No dia em que eu nasci o meu mano Gonçalo segurou a mão da minha mãe e deu lhe um beijinho antes de ela ir para o hospital como que a desejar boa sorte.

No dia em que eu nasci, contra  as previsões de um inverno chuvoso, o sol brilhou o dia todo - desde a hora em que eu saí do quentinho da barriga que me albergava à ,precisamente, nove meses.

No dia em que eu nasci muitos sorrisos brilharam quando leram a  sms com a boa nova, e alguns olhos ficaram húmidos de emoção - os meus quatro avós, os meus tios e tias ( tenho dois verdadeiros e cinco postiças!), a Leonor,o Samuel, a Inês e a Olivia (que são as minhas primas e primo),  o meu bisavô e muitos outros amigos e primos e tios sentiram aquelas borboletas no estômago que apertam um bocadinho a garganta e nos fazem sentir que tudo está bem quando o milagre acontece - o sentido da vida, como diria o meu pai que, no dia em que eu nasci, vinte e oito de novembro de dois mil e dez, olhou para a minha mãe e, por outras palavras, disse-lhe: amo-te.