A propósito de várias coisas que acontecem à minha volta, com os meus, e claro, a propósito desta loucura que é a maternidade - tudo gira á volta do meu João, ultimamente! - penso em como é fácil nos aniquilarmos. Em como é fácil perdermo-nos pelo caminho, muitas vezes pelas melhores das causas, muitas vezes sem darmos conta, muitas vezes simplesmente porque estamos a viver a vida que nos é dada a viver. Sem fazermos um esforço por vivermos a que queremos viver.
É fácil encostarmos o ombro em alguém que nos leve pela mão.
É fácil ter um porto de abrigo que não nos obrigue a pensar, a questionar permanentemente e assim muitas vezes deixamos de fazer escolhas que realmente nos interessam.
É fácil ir atrás dos objectivos de uma outra vida qualquer que não a nossa - é mais cómodo no final das contas - acatar os conselhos dos pais, focarmo-nos no bem estar supremo de um filho, seguir as vontades de um amor.
É fácil vivermos enredados num sem fim de coisas importantíssimas que não tem importância nenhuma e esquecermos de nos deliciar com as nossas músicas de sempre, de perder uma tarde a ler um livro de poemas, de encontrar cada dia novas paixões - perdemos algures a capacidade com que nascemos para nos deslumbrarmos com cada mínima coisa deste mundo - os olhos pasmos do meu bebé a olhar para cada coisa, cada cor, cada movimento prova-o!.
Por mais que nos custe, ou que sejamos olhados de lado como uns aliens, ou pessoas a precisar de "um rumo" ou uma "ajudinha" de qualquer fármaco que nos aliene outra vez e nos ponha no " bom caminho" é bom que não tenhamos medo de nos lembrarmos de nós todos os dias! De virar a mesa se for preciso para nos voltarmos a encontrar: estar só quando mandava a ordem social estar acompanhado, estar lá quando mandava o bom senso estar cá, arriscar quando mandava a prudência reflectir, mudar prioridades quando o nosso coração diz que sim!
Relembrar os nossos sonhos, as nossas ambições, as nossas metas ou a falta delas, os nossos gostos, as nossas vontades, o nosso tempo, os nossos lugares - tudo o que nos define como indivíduos e sem o que não podemos de forma nenhuma ser felizes nem fazer felizes com quem partilha a nossa vida.