13 maio 2010

3 - ionline 10.05.10

 Montañes. Há coisas que são altas de mais para escalar

Frederico Gil bem tentou, mas no final de todas as contas Albert Montañes foi inultrapassável. O catalão bateu o português por 6-3, 6-7 (4) e 7-5

Isto irrita. Irrita porque mostra o país, numa especie de alegoria que nos leva longe... obriga-nos a tirar conclusões metafóricas (e não metafóricas!) mas todas más.


É verdade que o Benfica ganhou o campeonato nacional. É verdade que tal não acontecia à cinco anos e que todos têm o direito a festejar e a adorar futebol mais que tudo na vida. Não é essa a questão.
O que me indignou mais foi a completa indiferença com que os vários orgãos de comunicação social e parece-me, mesmo nós cidadãos portugueses brindaram esse feito, também ele glorioso, de um atleta português disputar uma final desportiva.

Há que dizer que o jogo em si é bonito. É limpo. Há que dizer que aquele espetáculo em particular foi bom - foi feito de paciência, de força, de coragem,  de emoção mas também de respeito, de concentração e esforço, de resistência  - tudo lições bonitas para tirar para a vida.

Há que dizer que nos tornariamos um povo melhor se investissemos mais nos nossos desportos  - os menos ligados a escândalos e corrupção, os que nos façam puxar pelos nossos limites individuais, que nos ensinem regras, a perder e a ganhar e a trabalhar em equipa, a valorizar a diferença e as mais valias de cada escolha que não seja FUTEBOL.

E há que dizer que foi um feito sim senhora! O importante não foi Montanes ter ganho o Estoril Open ( e que todos os jornais noticiaram!), foi Frederico Gil ter ido à final e ter perdido com muita dignidade! Chama-se ver o copo meio cheio. Chama-se valorizar o lado positivo das coisas, do país, dos portugueses.
Frederico Gil não tentou - deu o seu melhor, deu o que tinha e o que não tinha. E jogou, com a mestria do adversário a ajudar é verdade, bonito. E isso merecia ser apontado. Deveria ser reparado por todos.

Não há atalhos, costuma dizer-se. Em qualquer jornada ou aventura que encetemos. Em qualquer projecto que tenhamos - como individuos, como sociedade, como país - o caminho faz-se caminhando: com metas e semi metas, com estratégias que podem ter avanços e recuos, com horizontes à vista, com pequeninos passos e esfoços diários - para atingir, talvez, o que nos proposemos,ou outra coisa muito maior, muito melhor ou até muito diferente, quem sabe, porque ao fazer o percurso com essa postura de humildade e tentativa erro vamo-nos aperfeiçoando e vamo-nos mudando - para melhor espera-se.

Não há coisas altas demais para escalar - como tão bem nos mostrou recentemente João Garcia  - nem para o Frederico nem, esperemos, para nenhum de nós - há sim, lições a tirar de como devemos preparar-nos para a escalada e, uma vez encetada, leva-la a cabo com o melhor de nós.
Poderá o país ( ou quem o governa, governará) olhar para este exemplo de um miúdo de 25 anos?

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